quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Toque Essencial

Já faz alguns anos, um pequeno texto do Rubem Alves, chamado “A Margarida Friorenta”, causou um grande impacto em minha vida. A história falava de uma menina que, a pedido de seu cachorro, acolheu certa noite em seu quarto, uma margarida que sentia muito frio. A menina abrigou a florzinha em uma caixa, vestiu-a com um casaco e usou até um cobertor, mas a margarida continuava a tremer de frio. As horas iam passando, a noite avançava e, apesar das tentativas da menina, a florzinha não conseguia dormir. Até que, de repente, a menina teve uma idéia. Tomou a florzinha em seu colo, tirou o cobertor e o casaco que a cobriam e a acariciou com ternura. Como que por encanto, a florzinha adormeceu e a história termina com a menina dizendo que finalmente ela havia entendido que “aquele frio não era de cobertor”. Eu, enquanto fechava o livro, também como que por encanto, descobria algo a meu respeito. Minha carência afetiva e a necessidade de sentir-me amada eram bem maiores do que eu gostaria de admitir. Foi um momento de grande dor, mas talvez ali tenha sido o início de uma longa jornada, que começa pela aceitação de minha fragilidade e continua ainda hoje no difícil aprendizado da arte de dar e receber amor. Encontramos na Bíblia, várias passagens em que Jesus tocou homens, mulheres e crianças, promovendo a cura e abençoando suas vidas. A figura trazida por Rubem Alves nessa história revela a riqueza do toque, da carícia essencial que cura, reconcilia, aquece, manifestação concreta do afeto e do amor que sentimos por alguém. A mim revelou também a importância de me deixar cuidar - de não tentar negar o “frio” que às vezes sinto -, me deixando aquecer pela ternura e cuidado de pessoas amigas. Demonstrar nossa fraqueza e vulnerabilidade, certamente, é um exercício difícil e envolve riscos. Porém, é revelador do amor de Deus, que de tantas formas se manifesta a nós, vindo ao nosso socorro em mãos que acariciam e confortam quando o “frio” parece não querer passar.

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3 comentários:

Anônimo disse...

Ana,
Fico impressionado com a sua capacidade de se expressar através de textos. Por eles, você se deixa revelar mais abertamente e as coisas simples do seu dia-a-dia ganham nova dimensão, beleza, riqueza, significado, vida. Não há como ler os seus textos e não aprender algo de valor, tirar uma lição de vida. Sou privilegiado por poder ser seu leitor, interlocutor, amigo, companheiro, podendo, assim, aproveitar mais abundantemente as riquezas do seu ser. Beijos. Gilberto
(Brasília, 27/11/08)

Ana Rita disse...

Obrigada, querido, pelo seu comentário e por suas observações, sempre tão preciosas. Na verdade você, além de ser tudo iso que disse (meu leitor, interlocutor, amigo, companheiro)é um grande incentivador. A criação desse blog foi incentivo seu, foi um "empurrãozinho" que precisava para que eu voltasse a escrever. Você me incentiva e inspira. Bjs e obrigada, mais uma vez. Ana (Brasília, 27/11/08 - 21h30)

Paulo Costa disse...

Que história linda, maravilhosa, encantadora!
Depois, a forma como você a desenvolve, complementa e enquadra nos pequenos acontecimentos e experiências do cotidiano, revela uma enorme sensiblidade e vivência interior.
Força com o blog! Já sou um fã incondicional!

Abraço fraterno!