segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ouvir e ser Ouvido


Na fila em que me encontrava para votar nas última eleições, uma senhora, bastante extrovertida, puxou conversa com quem estava por perto. Tentou descobrir os votos de alguns; falou mal dos políticos em geral; brigou e reclamou da demora; da falta de preparo dos mesários e fiscais e das pessoas que paravam à porta da nossa seção para pedir informações. Enfim, aquela senohra reclamou e falou tanto que, em um determinado momento deixei de ouvir o que ela dizia e me pareceu que as pessoas ao redor também.
De repente, não sei dizer em que ponto daquele monólogo ela disse algo assim: "o que a gente tem mesmo é carência de conversar, a gente quer falar, mesmo que seja da vida dos outros, precisa conversar com alguém, ainda que seja para pedir informações." É verdade, eu pensei imediatamente, de certa forma essa senhora tem razão. Se há algo nessa vida que nos faz sucumbir é o sentimento de isolamento, de abandono, de vazio.
Somos seres relacionais e interagir com as pessoas através da fala é uma necessidade que, muitas vezes, vai além da mera intenção de nos comunicar e passa a atender uma necessidade básica do ser humano que é a de conexão e amor. Muitos são os estudos da psicque humana que revelam isso.
Portanto, ouvir é preciso, ser ouvido também. Saber ouvir é uma arte, um dom a ser desenvolvido se desejamos estar verdadeiramente com as pessoas. Ser ouvido é um privilégio, é graça divina que nos aproxima do outro e promove momentos mágicos de contatos humanos sensíveis.
Quando nos sentimos à vontade e seguros para falar de nós mesmos, dos nossos sentimentos mais profundos, sejam eles bons ou ruins; quando compartilhamos coisas que nos são de extrema importância e valor e percebemos que somos ouvidos com atenção e respeito; quando percebemos que nosso interlocutor valoriza aquilo que dissemos, vivemos encontros verdadeiros de amor, afeto e de enriquecimento mútuo... encontros que têm o poder de transformar mentes, corações e comportamentos.

2 comentários:

Paulo Costa disse...

É com muito prazer e alegria que estou a visitar seu novo espaço.
Estou convencido que seus "pensamentos e momentos" vão enriquecer, encantar e aprofundar meus pensamentos e momentos.

Gostei imenso deste texto. São esses acontecimentos/situações aparentemente insignificantes e banais do nosso cotidiano dos quais podemos extrair profundas reflexões e ensinamentos.

Uma pequena partilha:

"Não há maior infelicidade sobre a terra que a de não encontrar ninguém com quem falar e as nossas tagarelices, longe de remediarem este silêncio, só servem, a maior parte das vezes, para o tornar mais pesado." (Christian Bobin, em "Ressuscitar")

Já visitou meus blogues?

Abraço fraterno!

Ana Rita disse...

Obrigada, Paulo pelas palavras de incentivo e pela "pequena partilha" que na verdade veio para somar aos meus pensamentos, quando me expressei nesse texto.
Tenho visitado o seu blog "Abrigo dos Sábios" que está maravilhoso e inspirador. Passarei por lá mais vezes e deixarei meus comentários. Não deixe nunca de postar, sua contribuição é muito valiosa e certamente transforma vidas.

Um abraço.