
Nessas ocasiões sempre me sinto desafiada a abrir espaço para o novo como, por exemplo, conhecer lugares, pessoas e idéias, mas mais do que isso, conhecer algo novo a meu respeito. Tirar proveito desse tempo para refletir um pouco no silêncio das noites de um quarto de hotel é algo que eu gosto de fazer e dessa vez o tema que ficou rodopiando na minha mente foi a solidão. À minha lembrança vieram tantos momentos como aquele, em que estar só é bom, agradável, proveitoso ou simplesmente relaxante, sem demandas externas. Há momentos em que tudo o que mais desejo (acredito que muitos compartilham desse meu gosto) é estar a sós comigo mesma, sentindo que a minha companhia basta, transborda, preenche... a isso chamamos solitude. Mas solidão é outra coisa...são momentos em que há um abatimento da alma, um estado de espírito negativo que deprime, tira a energia e nos remete a um grande sentimento de vazio e de não pertencimento.
Sendo assim, quem gosta de ser só? Há os eremitas e a eles todo o respeito, escolheram viver dessa forma, mas ouso dizer que a maioria dos seres humanos tem dificuldades em conviver com a solidão. Pois é, diria alguém, mas solidão é uma condição humana básica que em algum grau todos nós experimentamos e numa sociedade em que predominam valores como o individualismo, egocentrismo e ativismo, a separação entre nós e os outros – mesmo que estejamos cercados por pessoas, projetos e recursos – é uma conseqüência que nos leva a um “eu solitário” cada vez maior. Em meio a este cenário muitas vezes sobram apenas o vazio e o tédio os quais tentamos disfarçar com mecanismos de compensação, na crença de que aplacaremos a dor trazida pela solidão pessoal.
Nesses dias no hotel usufrui de momentos de solitude, mas andei pensando na solidão e como lidei e lido com ela em tantas situações da minha vida. Pensei por exemplo, em como a vida é dinâmica e nos reserva surpresas, algumas boas, outras bastante adversas. Às vezes somos remetidos a uma solidão imposta pelas circunstâncias do momento independente da nossa vontade. Pode ser o fim de um relacionamento, ou os filhos que cresceram e vão seguir seus caminhos, os familiares que residem distante, o local de trabalho que parece não apresentar mais desafios. Enfim, são várias as circunstâncias que podem, de repente, trazer a solidão para o centro de nossa vida. Buscar formas de não sucumbir a ela, de não me deixar remeter a um ciclo vicioso de pensamentos e atitudes que preenchem, ilusoriamente, o vazio da alma é um desafio. Olhando para a forma como tenho enfrentado esses momentos concluí que resisto à idéia do ativismo, do egocentrismo e do individualismo. Para mim o compartilhar e o servir são maneiras que tenho encontrado de erradicar a solidão em minha vida. Conviver em comunidade é transportar-me do EU para o NÓS, é olhar em volta e sair de mim ao encontro do outro, é cuidar e deixar-me ser cuidada. E assim, na comunhão – entre antigas e novas amizades – vejo Deus agindo, transformando o “eu solitário” num “nós”, que consola e dá a dimensão do Seu amor e cuidado.
“Ainda que meu pai e minha mãe me desamparassem, o Senhor me acolheria”, diz o Salmo 27:10. Esta é uma das mais belas promessas de Deus para as nossas vidas, ela se concretiza na comunhão e no serviço de uns aos outros. Nela não há espaço para a solidão fazer morada.
As noites passadas em solitude me trouxeram essas coisas à memória.
Um comentário:
Olá Ana, descupe-me por entrar assim, sorrateiramente, em seu canto, mas agradeço pelo acolhimento...
Escolhi esse poema, pois tem muito do que vc escolheu.....rssrsr.
Beijos e sucesso.
Postar um comentário