Na última semana estive fora da cidade participando de um Congresso que reuniu cerca de 2.000 pessoas com muitas atividades, tanto intelectuais quanto sociais. Foram dias agitados preenchidos por uma rotina diferente fora de casa, fora do meu ambiente de trabalho, distante de familiares e amigos.
Nessas ocasiões sempre me sinto desafiada a abrir espaço para o novo como, por exemplo, conhecer lugares, pessoas e idéias, mas mais do que isso, conhecer algo novo a meu respeito. Tirar proveito desse tempo para refletir um pouco no silêncio das noites de um quarto de hotel é algo que eu gosto de fazer e dessa vez o tema que ficou rodopiando na minha mente foi a solidão. À minha lembrança vieram tantos momentos como aquele, em que estar só é bom, agradável, proveitoso ou simplesmente relaxante, sem demandas externas. Há momentos em que tudo o que mais desejo (acredito que muitos compartilham desse meu gosto) é estar a sós comigo mesma, sentindo que a minha companhia basta, transborda, preenche... a isso chamamos solitude. Mas solidão é outra coisa...são momentos em que há um abatimento da alma, um estado de espírito negativo que deprime, tira a energia e nos remete a um grande sentimento de vazio e de não pertencimento.
Sendo assim, quem gosta de ser só? Há os eremitas e a eles todo o respeito, escolheram viver dessa forma, mas ouso dizer que a maioria dos seres humanos tem dificuldades em conviver com a solidão. Pois é, diria alguém, mas solidão é uma condição humana básica que em algum grau todos nós experimentamos e numa sociedade em que predominam valores como o individualismo, egocentrismo e ativismo, a separação entre nós e os outros – mesmo que estejamos cercados por pessoas, projetos e recursos – é uma conseqüência que nos leva a um “eu solitário” cada vez maior. Em meio a este cenário muitas vezes sobram apenas o vazio e o tédio os quais tentamos disfarçar com mecanismos de compensação, na crença de que aplacaremos a dor trazida pela solidão pessoal.
Nesses dias no hotel usufrui de momentos de solitude, mas andei pensando na solidão e como lidei e lido com ela em tantas situações da minha vida. Pensei por exemplo, em como a vida é dinâmica e nos reserva surpresas, algumas boas, outras bastante adversas. Às vezes somos remetidos a uma solidão imposta pelas circunstâncias do momento independente da nossa vontade. Pode ser o fim de um relacionamento, ou os filhos que cresceram e vão seguir seus caminhos, os familiares que residem distante, o local de trabalho que parece não apresentar mais desafios. Enfim, são várias as circunstâncias que podem, de repente, trazer a solidão para o centro de nossa vida. Buscar formas de não sucumbir a ela, de não me deixar remeter a um ciclo vicioso de pensamentos e atitudes que preenchem, ilusoriamente, o vazio da alma é um desafio. Olhando para a forma como tenho enfrentado esses momentos concluí que resisto à idéia do ativismo, do egocentrismo e do individualismo. Para mim o compartilhar e o servir são maneiras que tenho encontrado de erradicar a solidão em minha vida. Conviver em comunidade é transportar-me do EU para o NÓS, é olhar em volta e sair de mim ao encontro do outro, é cuidar e deixar-me ser cuidada. E assim, na comunhão – entre antigas e novas amizades – vejo Deus agindo, transformando o “eu solitário” num “nós”, que consola e dá a dimensão do Seu amor e cuidado.
“Ainda que meu pai e minha mãe me desamparassem, o Senhor me acolheria”, diz o Salmo 27:10. Esta é uma das mais belas promessas de Deus para as nossas vidas, ela se concretiza na comunhão e no serviço de uns aos outros. Nela não há espaço para a solidão fazer morada.
As noites passadas em solitude me trouxeram essas coisas à memória.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
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Um comentário:
Olá Ana, descupe-me por entrar assim, sorrateiramente, em seu canto, mas agradeço pelo acolhimento...
Escolhi esse poema, pois tem muito do que vc escolheu.....rssrsr.
Beijos e sucesso.
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